Maria Lígia de Oliveira Barbosa
Professora associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o LAPES (Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior/UFRJ/CNPq).
Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: desigualdades sociais, hierarquias sociais, ensino superior e profissões, politicas públicas..
O ensino superior ficou mais democrático no Brasil?
Tendo atingido 8 milhões de estudantes matriculados, o sistema de ensino superior brasileiro vem se abrindo a novos estudantes e tem aumentado a proporção da população adulta com maior escolaridade. Também ocorreram mudanças profundas na organização e nos formatos de instituições, cursos, modelos de ensino e pesquisa. Temos agora um sistema de ensino superior bastante ampliado e diversificado. Mas seria ele menos elitista e mais aberto? Seria ele capaz de oferecer maior igualdade de oportunidades sociais aos egressos do sistema?
Nos estudos recentes indica-se que massificação não é exatamente democratização. Mesmo com mais vagas e com políticas para o acesso e permanência, a democratização do ensino superior dependeria também da estrutura geral do sistema educativo (DUBET, 2015)*. Ou seja, para entender as possibilidades de democratização neste nível de ensino é fundamental compreender como ele funciona, o que a sociedade demanda dele, quais são seus resultados e, principalmente: como o sistema de ensino superior está organizado no país, quais são as regras sociais que regulam seu funcionamento, e como os atores sociais envolvidos interpretam e agem sobre estas regras. Repetindo: O que acontece dentro do sistema de ensino superior? Como se explica que o sistema permaneça tão elitista num contexto de expansão gerada por pressões econômicas e sociais eventualmente traduzidas em políticas públicas?
Este problema não é exclusivo do Brasil e vimos que boa parte da explicação pode ser encontrada no funcionamento das próprias instituições que compõem o sistema de ensino superior. Elas podem fortalecer uma hierarquia de competências, investindo e valorizando alguns cursos ou modalidades de ensino. Ou ainda, podem oferecer, ou não, condições institucionais – horários, apoio e acompanhamento pedagógico – para que estudantes que trabalham possam finalizar os estudos com sucesso. Podem também ser oferecidos mecanismos de financiamento razoáveis. As possibilidades são muitas e talvez possam ser resumidas numa questão: como nosso sistema de ensino superior lida com os chamados ‘novos alunos’?
Nesta chave, apresentaremos nos próximos dias algumas das pesquisas do LAPES que trazem evidências empíricas e questões teóricas sobre o papel que os modelos institucionais do ensino superior podem desempenhar nas disputas sociais, limitando ou restringindo a força reprodutora do sistema.