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Permanência na educação superior: de que desafios estamos falando?

Atualizado: 17 de ago. de 2019

Ruth Maria M. O. Prado

Nos últimos anos o ensino superior brasileiro sofreu diversas mudanças em virtude de algumas políticas públicas que tiveram por objetivo a expansão e democratização do sistema. Nesse processo de mudança, muitos debates foram suscitados em relação a questões de infraestrutura, mérito e qualidade do ensino.


Um desdobramento dessa democratização, entretanto, ainda precisa ter sua discussão ampliada e diz respeito à permanência dos estudantes nas IES e, principalmente, em relação ao papel da instituição nesse processo.


Um primeiro ponto a ser colocado em relação à permanência no ensino superior é que não se trata de um processo natural, ou seja, acesso não é garantia de permanência e conclusão do curso, ainda que, no geral, a ideia da “formatura” seja rapidamente incluída nos discursos e imaginário daqueles que “entraram para a faculdade”. O percurso acadêmico pode ser bem acidentado e cada área de conhecimento tem suas peculiaridades (e expectativas) quanto ao tipo de trajetória que é “normal” para seus alunos.


No caso das áreas STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) ou CTEM (Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemática, na sigla em português), de acordo com o Relatório Education at a Glance 2018, o Brasil apresenta um dos menores percentuais de graduados nessa área. Esses dados trazem um alerta quanto ao que está acontecendo nesse campo e que, talvez, novas estratégias precisem ser desenvolvidas a fim de mudar esse quadro.


Temos visto que as pesquisas e instituições que tem se debruçado em questões de

permanência apontam determinadas ideias e posturas como sendo “próprias” dessa área.

Há, dessa forma, o reforço da ideia de que as “ciências” são mais difíceis que outras áreas de conhecimento e, por consequência se pensa que o aluno precisa ter/tem inteligência acima da média, e por isso, é um campo para poucos. Além disso, tem-se, também, a ideia da reprovação como um “processo natural” na trajetória dos estudantes, principalmente em matérias de cálculo.


Quanto à permanência, Yorke e Longden (2004) afirmam que há três principais partes interessadas: os estudantes, a instituição e o governo. Cada um destes possui expectativas e atribuições diferentes no processo. Na literatura internacional sobre permanência é possível observar a ênfase e o papel que cada uma dessas partes interessadas tem no processo a partir dos termos utilizados.


Por exemplo, quando se fala de permanência considerando o papel dos estudantes, usa-se o termo “persistence”, pois espera-se destes o envolvimento, comprometimento e perseverança no decorrer de suas trajetórias. Quando se fala da instituição, fala-se de “retention”, ou seja, do papel (ativo) desta em desenvolver ações para que seus alunos permaneçam, tenham melhor aproveitamento e, por fim, concluam (completion) seus cursos.


O governo se configura enquanto parte interessada a partir de uma perspectiva do retorno de investimentos realizados. Daí não só a permanência, mas principalmente a conclusão se apresenta como uma medida de eficácia das instituições.

Algumas experiências e pesquisas em âmbito internacional em cursos das áreas STEM tem mapeado as principais dificuldades e características do campo que afetam a permanência dos estudantes, mas também tem mostrado alguns bons resultados no desenvolvimento de ações com foco em questões pedagógicas. Dentre as principais ações estão:

  • cursos de “ambientação institucional e acadêmica” (orientation courses) que podem ir desde o ensino de técnicas de estudo e gestão do tempo até cursos introdutórios de alguma habilidade ou conhecimento específico da área (cálculo);

  • estabelecimento de mentoria ou comunidades de aprendizado em que ocorra o engajamento do estudante entre seus pares, mas, principalmente, em torno da aprendizagem, e;

  • ações que envolvam “aprendizagem ativa”, ou seja, atividades em que o estudante seja desafiado a pensar, criar ou resolver problemas. No entanto, esse tipo de abordagem pode esbarrar na falta de conhecimento e/ou experiência por parte dos professores em conduzir esse tipo de ação.

Ainda que os exemplos dados sejam referentes às áreas STEM, estes podem ser aplicados a qualquer área do conhecimento. Destaco, entretanto, que a“dimensão pedagógica” das ações de permanência parecem ser chave no processo e, dessa forma, merece atenção dos pesquisadores e demais interessados no tema.


Ruth Maria M. O. Prado

Pedagoga do Instituto Federal do Maranhão – IFMA. Doutoranda e Mestre em Educação pelo PPGE/UFRJ. Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior – LEPES.


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